terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Criança!

 
Encontrei um grilo sobre a sacada
Na manhã de domingo e de algodão-doce
O grilo tinha asas verde esmeralda
E fez cri-cri durante toda a noite

O vento fez cócegas no meu cabelo
E o grilo voou espantado
Eu ri da nuvem que tinha forma de camelo
E o algodão-doce caiu lá em baixo

Olhei pela janela do meu quarto
E lá no chão riam as formigas
Todas felizes cochichavam
- Ah! Como é doce essa vida!

Eram o grilo e as formigas
O camelo e as nuvens
Algodão-doce, vento e janela
O mundo de cores pintado por ela!

Menos um!

O discurso ideológico burguês passeia livremente sobre as mentes samongas durante a missa jurídica semestral. A alienação rotineira salta dos olhares nublados e esfumaceia o ar de mais uma prisão literária repressiva. Repetitivamente aprende-se da história, a velha estorinha do "justiceiro" que sob o véu de palavras sedutoras legitima o modelo antigo de exploração e discrimina com estereótipos de teorias dominadoras, os explorados. 
Os docentes re-utilizam os pré-conceitos estabelecidos e já não exclamam em seus olhos o brilho da dúvida, da indagação, e nem mesmo o da indignação... E tudo parece tão normal... numa sala que fede a alienação!
Os discentes em seus "assim seja"s coloquiais, automatizam-se através de sermões e brocardos; e no auto copia/cola enfeitam seus cadernos com argumentos superficiais que só reproduzem a mesma "Constituição" da história jurídica. E descaradamente exacerbam o individualismo tornando-o um monstro visível do curso de Direito. Ainda roem as unhas de ansiedade para na próxima avaliação bimestral tirarem a nota mais alta e se possível anunciar nos corredores da Universidade, a vaidade fenomenal.
E o curso segue impunemente sua metodologia selecionista e esmagadora, justificando o sistema atual e a irracionalização de seres humanos quando abrem a boca e berram "indignados": 
(Pena de morte! Esses marginais tem mais é que morrer! Ah! Tem trabalho, tem emprego, tão roubando por que? Prisão é pouco! Tem que ter pena de morte! Incêndio na favela, hahaha, eles fazem casa onde não devem e só atrapalham, além disso só tem traficante lá dentro, tem mais é que morrer! E o nordeste, a gente sustenta aquela porra lá, e o povo nem trabalha. Ah vão se fuder, esses bicho são tudo palha mesmo!)
(Pô cara! eu tava lá na Bahia e os policiais pegaram um bando de "marginalzinho" roubando, cheirando, fedendo... não podiam nem colocar eles no chiqueirinho, porque são protegidos pela Lei. Pô cara nada a ver! Que viagem!)
E me arrepia tanta ignorância e estupidez! Mentes medíocres que se alienam com a futilidade de um discurso cortês, com a máscara da televisão sentados no sofá "vivendo" o mundo de onde está.
Paletós e  tailleurs sustentam o teatro onde ensaia a geração de futuros exploradores. Dentro do mundinho do seu umbigo eles sonham com pisos salariais altíssimos, advocacias, magistratuas... ah! E o carro do ano! Pensei talvez, se não seriam dignos de pena... e por ter pensando nisso, talvez o fossem. Mas como  podem ser dignos se quando vêem a miséria alheia não sentem um pingo de desconforto ao sorrierem como se estivessem assistindo um filme de comédia!
A realidade é tão próxima e mesmo que o aparelho ideológico vigente tente mascará-la, só não ver quem não quer enxergar e prefere viver mergulhado no poço da indiferença.
Lá no fundo, no cantinho da sala de aula, observando, vou lavando meus olhos com a luz do idealismo e humanidade que habita em mim... Ora matuto um plano estratégico de fuga para o alto da montanha que avisto pela janela da sala; ora discuto com minha inércia diante de coisas absurdas que meus ouvidos ouvem quando minha  boca serenamente se cala.
E sigo a tecer o meu ideal durante esse percurso e no final, sobrevivendo, sei que o meu verbo soará livre com toda lucidez da minha humanidade e esperança de um mundo melhor, ele se fará vivo, latente!
De uma coisa tenho certeza... não faço parte do corpo dessa "missa" desde que entrei no curso de Direito . A cada semestre é como se eu tivesse me tornando menos um e não mais um. E sinto que não estou sozinha nessa luta, pois sei que no dia-a-dia da história desse mundo, nós os "menos um" fazemos a grande diferença!