domingo, 8 de julho de 2012





Quem é esse homem de pele sem cor e uniforme laranja?
Pra quê lhe vestiram cor tão vivaz?
Tijolo e cimento, o sol raiando o azul do dia
Não lhe seria uma pena a mais?
Quem é esse homem de cabelo raspado,
Rosto marcado, olhar cabisbaixo?
Reconstruindo o muro da delegacia,
Chamam-lhe de preso, mas não sei o seu nome
Nem me disseram quem é esse homem?
Que homem é esse por mim imaginado?
Por que seus olhos insistem em olhar para baixo?
De onde ele vem? Para onde ele vai?
Tijolo e cimento, o sol raiando o azul do dia
Não lhe seria um dia a mais?
Dei-lhe bom dia e sorri:
Assustado debulhou-se num riso oprimido
E esmagou as palavras... Quase que lhe ouvi!
Não sai da minha mente a imagem de ontem
Atrás deste rótulo, quem é o homem?
Quem será o primeiro a perguntar o que sente?
O homem sem voz, o homem sem olhos,
O homem sem corpo, o homem dormente.
Da etiqueta do criminoso, do processo excludente.

Homem, quem é você?

terça-feira, 26 de junho de 2012

Não sei.
Não sei...
Não sei!
Não serei?
Sei não.
Sei não...
Sei não!
Serei não?
Não sei não, senão não serei!
Pior o talvez?
Ou o não sei?
Tanto fez, quanto faz...
Quanto faz, tanto fez!
Tanto fez, tanto faz?
Serei não sei, senão
Nunca saberei!

Como saber o que não sei,
se não serei o que saberei?
O que quero ser, nem sempre eu sei,
Mas não serei o que não sou e não sei!

sexta-feira, 22 de junho de 2012



Tem nos olhos um planeta
De mil estrelas, mil moradas
Habitam os ventos e os jardins
Risos e mistérios da minha alma
Tem na voz um poema
Mais leve que uma pena
Essa voz que não se fala
Sopro de uma sabedoria calma
Quase nunca se revela
Quase sempre se cala.
Tem nas mãos os teus segredos
Nessas linhas tão definidas
Caminhante vencendo seus medos
Mãos que curam minhas feridas
E os pés que tanto me confundem
Escolhas, tuas vindas e idas
Guardam o segredo do teu nome
Tens no corpo tuas marcas
Histórias, lugares, razões
Anjos, Corujas, Pássaros
Mares, montes, pipas e dragões
Tens o rosto desse corpo
Tens o corpo dessas mãos
Tens os olhos desses pés
Tens os pés no coração
Quem somos nós? Por que estamos aqui?
Nessa realidade de contradição
Pra quê saber se não é permitido
Desvendar o que não se entende com a razão
Pra quê respostas do desconhecido
Se hoje somos o que não tem explicação.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Longe

Partiu-se a pedra que achou preciosa
No deserto da alma em que padeceu
Os sonhos e as lembranças silenciosas
Retratos que não viveu
Ansiosa pelo que havia
De ar dentro da pedra
Nem barro, nem pó, nem poesia
Nenhum vestígio dela
O longe já existe em algum lugar
E avistar paisagens não alivia
A palidez no tempo presente
De coisas que não queria
O alcance da flor sagrada
Aquela que coloriu amarela
Orvalho, folhas, areia e pedras
Buscam o destino em que nasceu
Brincando com a sorte e o vento
Cantarolando luares como um arlequim
Desfazendo os mundos e as pessoas
Que não houveram
Nem estiveram aqui
Aonde estão os segredos que foram revelados
Aquela luz, com cor de dourado?
Aonde estão o mesmo rosto, o mesmo olhar
Quando depara-se no espelho sem reflexo
Fantasmas e memórias a lhe perturbar
Pedra preciosa noutro tempo mágica
Parte-se e o vazio preenche as horas
No relógio do mundo
Descompassa o coração mudo
Onde a vida tenta sobreviver
Em menos de um segundo.

domingo, 25 de março de 2012

No espaço de mim...




 Há um espaço dentro do ser
Que não pode ser preenchido por nada
Nem por ninguém, além de você
Há um caminho, um percurso
Que só teu íntimo pode conhecer
E se não desvendar
Dias sem sol, sem chuva
Dias distantes
Distantes do tempo, desse tempo que envolve
A vida e o agora
Nada se completa, e tudo perturba
Até a claridade lá fora, assusta!
O escuro é o acalanto,
Que desejamos tanto
A gente deita num canto gelado
E a dor vai queimando pedaços de nossa memória
Histórias que não foram vividas
E vidas que foram embora
Sonhos abandonados pela nossa alegria
Encolhidos, abraçamos nosso único abraço
Choramos por tudo e por nada
Procurando respostas que nunca foram reveladas
Nem serão no meio da estrada!
Dias assim, dias que não se vão
Eternos despertos, fogem de qualquer razão
Nesse espaço, só cabe o teu coração
Não cabem conselhos, atalhos
Gestos e carinhos alheios
Nesse espaço, não cabem outros desejos
A não ser tudo o que tu foi,
Ou deixou de ser
Tudo o que tu és e amanhã não mais serás!
Quem saberás?!
É o instante em que os fantasmas somem
As vozes não dizem nada
Os olhos não vêem a ponta de luz
É o instante em que se descobre só...
E de repente no meio do nada
Esse nada te flutua e te segura
Não há o que perdoar
Nem o que ser perdoado
E embebidos de calma...
Fecham-se os olhos de tua alma
E repousa o sonho da criança
Numa cura sagrada!

domingo, 4 de março de 2012

Castelo e areia!

Sonhos se desfazem no templo
E o vento varre os grãos da ilusão derretida
Se a gente flagela os sentimentos
e reparte as emoções
como viver inteiro do momento
como sentir se fragmentamos em razões?
O vento apressa os versos na areia
E as ondas levam à eternidade o declarar
O coração que soube ouvir apenas fixa o olhar
Decora os versos em segredo
rabiscados a dedos com sal e lágrima
Aperta no peito a dor do amor
E suspira pronfundo uma última palavra!
Presente no vento as lembranças de outrora
Não trarão o amor que se perde
Quando a areia do tempo devora
A areia do tempo é a memória...
O tempo do amor precisa ser agora!

Desencontro


Vejo o final de tudo
E longe de mim um começo
Não consigo alcançar o barulho do vento
Aquele velho vento molhado da chuva
E o tempo, passa correndo
passa por dentro, arrancando folhas verdes
frutos, sonhos, memórias
Que livro é esse que escrevo agora?
Que dia é hoje?
Aonde deixei a minha história?
Perde-se o medo,
o segredo, perdem-se as palavras entre os dedos
mãos trêmulas, lágrimas presas...
Quem eu fui outrora?
Onde fui eu mesma?
Tem algo obscuro
Eu já tentei, mas não posso advinhar
Achei que podia
Como se já soubesse
Como se conhecesse
Mas não posso...
Será que é meu
Será que tudo isso é nosso?
Quem chegou prmeiro,
Quem estendeu a mão
Quando olhou em meus olhos
Qual dos dois perderam a razão?
Não vejo o recomeço
e todos os dias o fim bate em minha porta
eu arrisco abrir a janela
Mas as paisagens não estão mais lá fora
Foram todos embora...
Quem é você que mora em mim?
Quem é você que em mim ja não mora?
Por que insiste em não respirar?
Por que insiste em dizer?
Palavras...
Apenas palavras...
Jogadas no vento
Perde-se o tempo
desmancha-se o momento...
o eterno do agora...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Esse texto é de uma bela alma, amiga minha, Ale. Vale a pena ler, ouvir e refletir!

Eu prometo não fazer isso de novo

Esta semana estive em um velório. Eles são sempre lastimáveis, exceto quando a ex-alma vivente fora desprezada em demasia pelos seus semelhantes quando ainda possuía fôlego de vida, e esse desprezo fosse fruto de sua extrema petulância, uma reação de indiferença a sua ação de desprezo para com aqueles que a cercaram em vida. Simplesmente a terceira Lei de Newton aplicada à convivência em sociedade.
Mas este não era o caso que se passava, pois todos os que ali estavam presentes, carregavam em seus semblantes o fardo penoso da morte, os poucos sorrisos que se via eram demasiadamente hipócritas e incoerentes com a situação vivenciada, as lágrimas da saudade imperavam naquele lugar. Seria excesso de presunção afirmar com certeza até que ponto havia sinceridade nas lágrimas ou sorrisos. Mas apenas em meu coração a certeza da tristeza do momento realmente persistia.
Quanto à ex-alma vivente? Ela repousava com grande serenidade, avessa as lágrimas e ranger de dentes espalhados ao seu redor. Havia quem acalentasse esperanças de que tudo aquilo não passava de um grande pesadelo, que tão logo o cadáver baixasse à sepultura, todos alegremente acordariam e seriam até capazes de achar graça de toda aquela situação. Contudo, isso não ocorreu. E os ponteiros do relógio passavam muito lentamente, como a estender ainda mais a dor.
Começaram assim a sentir agonia, como se estivessem a desejar que tudo passasse para que pudessem o mais rápido possível voltar para suas casas e, constatar se o que haviam acabado de enterrar de fato lhes faria falta. Mas a pressa de nada adianta em situações como esta. Ela poderia até ter sido útil quando ainda havia algum resquício de vida naquela alma que por ali repousava. Agora, porém, não possuía função alguma. Era necessário sentir os minutos passarem a fim de trazer a todos os espectadores ali presentes, uma profunda meditação, fazendo-os refletir: Onde eu cooperei para que essa tão bela ex-alma vivente exalasse seu último suspiro? O que eu fiz para ajudar a sepultá-la?
Não estou aqui narrando nenhum dos crimes contra a vida. Nesse velório não havia nenhum exclusivo culpado. A culpa era concorrente. Todos os que ali estavam presentes detinham parcela de responsabilidade para este desfecho. Os que lamentavam o final, choravam. E os que ignoravam, riam-se. Dessa forma estava dividida a sala fúnebre.
Quanto a mim, sempre tive uma tendência natural de estar com os que choram. Uma espécie de conforto para a alma, por acreditar que eles serão consolados. E também meditava até que ponto ajudara naquele sepultamento. Minha conclusão foi significativa: não dei o golpe final, mas era bem provável que minha indiferença aquela alma, também não tenha ajudado a evitar o mal maior. Fazer o mal ou deixar de fazer o bem, apresenta as mesmas conseqüências no final.
Foi assim que a ex-alma vivente foi enterrada naquela tarde ensolarada de sexta feira. Ela não era propriamente uma pessoa, de carne e osso, órgãos a interagir de forma perfeita e harmoniosa, um cérebro privilegiado a sempre pensar racionalmente. Tratava-se do mais belo princípio de vida. Era o amor que estava sendo sepultado. Agora, pergunte-me como isso pode acontecer? Argumentos são a própria resposta! A constante insatisfação humana em não ser feliz com o que dispõe, precisa de sempre mais. Mais prazeres, mais diversão, mais comida para sua fome de lascívia. Tornando-se cada vez mais avarento e mais orgulhoso e cada vez menos generoso, menos afetuoso. Tudo é buscado, menos o amor, ele ficou em segundo plano. Pra que precisaríamos de amor quando podemos satisfazer todos os nossos anseios, tendo um, dois ou quantos parceiros forem suficientes para atender a nossa carne fraca? Pra que amor se temos recursos financeiros que podem nos trazer alegria suficiente?
Foi triste aquela tarde; argumentos foram expressos, um a um. Os semblantes se alteraram com o decorrer do diálogo. E no final tudo foi justificado, sempre há uma teoria explica-tudo disposta a conceder um afago ao corrompido coração humano. As pessoas traem? Resposta: São os genes! As pessoas mentem? Resposta: É a seleção natural!
Será que não se consegue lutar com aquilo que traz tristeza as pessoas que nos cercam? Será que já nos tornamos tão escravos das próprias paixões? Será que somos capazes de ressuscitar o amor? Apesar de não termos nenhum poder sobrenatural?
A premissa maior ainda impera, pois acima de qualquer rótulo; do sexo, da religião, da cor, da crença ou descrença. Há um que prevalece: homo sapiens sapiens. O topo da cadeia evolutiva. Eu prefiro acalentar a esperança que essa raça de elevada inteligência não vai deixar se degenerar dessa forma, já que não seria uma demonstração dessa elevada capacidade.
Porém, passada aquela tarde ensolarada de sexta feira, onde cada um pode sepultar um pouco do amor, partiram cada qual para suas vidas e será que voltaram satisfeitos? Eu não posso responder pela coletividade, mas quanto a mim, espero não permanecer no portão da indiferença, pois essa ex-alma vivente me tem feito muita falta. Disponho-me a tentar ressuscitá-la, mesmo não tendo super poderes.


Alessandra Regina

22/02/2012