Páginas que vivem em mim!
Começarei falando da cor, da cor que era colorida com tons cheios alma, tons que vinham da essência dos segredos da vida, das descobertas e da imaginação de uma pequena menina. Dos campos cobertos de verde-limão, do vento nos cabelos, das flores que cheirava e colhia... Do mar, das mãos dadas com o horizonte, dos sonhos que pareciam tão longe... Dos primeiros desenhos, das peças de teatro, da primeira iniciativa social, dos medos, dos novos ideais e novas descobertas. Dos valores aprendidos e despertados em emoções sublimes... Do receio de gritar, das inquietações, dos momentos em que o desejo de partir era maior do que a vida, dos instantes de desespero, da maldade confundida, das decisões incertas, das contradições de sentimentos, momentos de profundo amadurecimento, autoconhecimento, momentos em que a minha casa não era mais minha, momento de dizer adeus... E os novos rumos, novos encontros, daquela dorzinha gostosa no peito, do primeiro amor, da saudade entardecida, do silêncio de um olhar que se encontrou no meu, do abraço que me afagou, da sinceridade que me trouxe mais uma manhã onde pude cuidar de novo das sementes que vinha plantando desde a minha infância. Falarei das viagens, das idas e vindas, ora inconstantes, ora intuitivas, dos pensamentos que seguiam os canteiros das estradas, dos meus olhos que procuravam nas paisagens uma resposta para tudo o que eu não esperava viver... E fui vivendo, de cabeça erguida, muitas vezes olhava pro chão, e reparava na sabedoria de uma pequena formiga e sem perceber aprendia e reaprendia a seguir em frente sem temer os obstáculos... Das convivências difíceis, das coisas e circunstâncias das quais eu não soube lidar, das verdades que foram escondidas, da coragem que me acordou, do medo que me fez dormir, dos braços que segurei e cuidei, do perdão, do dom de amar, da esperança que me despertava com o canto dos pássaros, por mais dura e pesada fosse a noite.
Por todos os lados, tentei fugir várias vezes, mesmo sem saber pra onde iria... Mas falarei da companhia da lua, do silêncio da noite, das conversas com Deus e com as estrelas, da paixão pelo universo, da visita aos meus antepassados, da revelações e sinais do coração, das amizades que me acalentam, dos abraços fraternos, do amor de pai, do amor de mãe, dos valores que a vida foi desabrochando aos poucos dentro de mim, das coisas lindas que aprendi e continuo aprendendo.
Foi entre poesias, frases, telas, gestos e antigas melodias, que eu compus o meu viver, buscando pedaços de mim nessa longa estrada, nas entrelinhas do tempo, nasci e renasci a cada despedida, a cada recomeço, entre quedas e precipícios, descobri as minhas asas. Fui tecendo com fios de algodão, sem pressa, sem medo de errar, as asas de uma alma! A liberdade de uma vida!
As lembranças vêm com a essência da aurora, colorida como um arco-íris que aos poucos vai tomando sua forma real, vem à luz do primeiro olhar ao mundo. E como não lembrar se jamais poderei esquecer as paisagens desenhadas no meu coração, e como não sentir e buscar a maneira mais simples de contar... Contar o que vi e senti ao abrir os olhos para um mundo tão grande e misterioso tanto quanto à vontade e a alegria de poder arriscar mais uma existência... A imaginação e a liberdade numa só composição, campos de lavanda dançando com o vento misturando-se na mesma sintonia do ar puro e expressando pedaços e momentos de passados e presentes futuros. Escrevo ao cair das folhas secas de outono, ao caminhar na estrada serena que eu escolhi seguir, ao me jogar entre as pedras do meu caminho e aprender também com elas que uma pedra tem o seu valor, escrevo aos ensinamentos do luar: O sonho e o ideal. O começo e recomeço, o encontro e reencontro, tudo outra vez... tudo mais uma vez escutando a voz da vida, decifrando no fundo dos olhares humanos a minha historia, a minha missão... E nas paredes sobreviviam desenhos e sentimentos, versos simples em poesias que expressavam o âmago da minha infância, eram desenhos abstratos, casas com chaminés que tocavam o céu, árvores de frutas vermelhas, talvez maçãs, talvez framboesas, árvores do tamanho dos meus sonhos, que balançavam ao vento que me encontrava sempre a olhar pelas janelas do mundo. As janelas viviam escancaradas e a noite os vaga-lumes tocavam no silêncio a orquestra de suas luzes verdes e mágicas. Os beija-flores e as flores amarelas, e por que amarelas? Até hoje eu não sei, mas eram sempre as amarelas, não que as outras flores de todas as cores também não faziam parte do meu descobrir, mas as amarelas, tão amarelas dentro de mim, perfumavam minha solidão com o cheiro carinhoso dos querubins.
"Ruas de pedrinhas brilhantes”, inventava historias, encenava o teatro do mundo, que nem imaginava minhas inocentes idéias que um dia fossem enfrentar o palco da dura realidade. No quintal de esconderijos secretos, na casinha simples como a das camponesas que estavam nos meus sonhos, as panelinhas de barro, o cheiro da fumaça do fogão a lenha na roupa que a minha mãe costurava com sua delicada mão... Lembro-me da primeira peça de teatro, a qual batizei como ‘A liberdade dos contos de fadas’, em palavras doces e simples, no meu criar, eu encontrei o início de um caminho fiel, ou melhor dizendo o caminho do meu coração...
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Um comentário:
Menina simples e sonhadora, mergulhada em sua fantasia, em seu maravilhoso mundo de fadas e seres encantados, cujo o mundo era feito de algodão doce, tão doce quanto o seu coração.
Encarou a realidade com lágrimas mas com força também, uma força tão forte que nem sabia que existia dentro de si. Ela chorou, sofreu, foi duramente magoada mas aprendeu a olhar para frente e acreditar no bem, na beleza e na magia das coisas.
Hoje ela é metade fada, caminha em nosso mundo e naquele mundo cor de rosa. Se perde e se encontra a cada dia, quando se afasta da sua metade fada, sua mãe, a lua, lhe chama, com uma música silenciosa e invisível, que só ela escuta com sua alma e coração.
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