Num castelo de pedras me reconstruo
De águas profundas que correm o rio do meu canto
Pedras que falam, pensam, choram, sonham
Pedras de todas as dores, cores e tamanhos
A temperança no meu olhar enternecido
Preenche de horizonte o mar que ainda não chegou
Busca no escondido o adormecido
Das pedras que o tempo nunca rachou
Em livros velhos e empoeirados
Poesias de vida, morte e labor
Desfaz o templo de sonhos quebrados
E retorna em luz à poetisa a me compor
De cor invisível revestir-me-ei
Pra que me vejam os olhos como estou
E conquiste sem conceitos o sentimento
Do mundo que em mim, serenamente sou
Não deixarei buracos, nem fendas, nem frestas
Pra que o Sol derrame nas palavras que o dia alcança
Luzes de sabedorias e valor
E exporei com coragem as minhas entranhas,
Mesmo diante de risos falsos e artimanhas
Daqueles que não conseguiram tocar o invisível de si
Não me tornarão também,
Pedaços vazios de mim
Compondo músicas com os vaga-lumes do luar
E com a orquestra de suas luzes, o meu caminho iluminar
Voarei ao som de asas, borboletas, cigarras
Som da terra, som do mato, dessas águas
Deleitar-me-ei e renascerei... Aurora!
Já não me conterás nesse ar de fora, submissão
Nem me acordarás pra esse mundo, desilusão
Viverei e aprenderei com as pedras que juntei
Fortalecendo nelas o segredo de cada sonho regado
Nesse castelo de luz e sombra
De ventanias em palavras vivas,
De pedras d’água que respiram
E suspiram orvalhos de amor!