sexta-feira, 1 de maio de 2009

Cartas




Escrevo cartas ao amor
Palavras com cheiro de flor
Coloridas com a dor
De lembranças não vividas
No coração de quem amou
Em doces fantasias enlouquecidas
Escrevo cartas à paixão
Vislumbrada ilusão
Perigosa invenção
Cujo fim é a solidão
Escrevo cartas aos sonhos
Vestidos bordados
De desejos infinitos
Panos manchados
Desenhos esquisitos
Saudade em pedaços
De momentos esquecidos
Escrevo cartas à felicidade
Uma ave solta livre pelo ar
Peço ao vento com bondade
Que possa lhe entregar
O meu sorriso sincero
E a coragem de lhe buscar
Escrevo cartas ao vento
Que sem pedir licença ou consentimento
Invade minha alma pequena
Trazendo de volta sentimentos
De uma época tão serena
E as flores secas do outono
Abrem a página do meu passado
Revelando de novo as primaveras
Dos anos rebeldes e dourados
Escrevo cartas ao tempo
Que às vezes parece-me tão mal
Levando as últimas lembranças
Desfaz nos meus cabelos as tranças
Desmanchando os mistérios da minha infância
Mas depois subitamente
Devolve-me sem mais as esperanças
E minhas mãos paradas nem sempre alcançam
Escrevo cartas a morte
Pedindo que ela me toque
Com sua luz eterna
Não me escuta, finge-se de surda
E simplesmente desaparece, morre
Mas quando vem inesperada
Em sensações descontroladas
Desesperada eu lhe peço
Para não me levar
De joelhos no chão
Coloco a mão no coração
E me ponho a rezar
Escrevo cartas aos pensamentos
Esses retratos de sentimentos
Controladores inconscientes
Mais velozes que o tempo
Ora apagam-se lentamente
Ora acendem-se de repente
Escrevo cartas à lua
A mulher de fases iluminada
A criança serena e nua
A fada que respira mágica
A menina que canta o amor pelas ruas
Escrevo cartas ao suicida
Na confusão interna dos meus gritos
Quando ouço dele as despedidas
Quando vejo a cor do vazio
Parado, ele fixa
O seu olhar na minha dor
E rir quando meus olhos choram
E chora quando meus olhos riem
Escrevo cartas ao poeta
Poesias tão concretas
Na realidade onde estou
Poesias abstratas
No meu mundo sonhador
Poeta empalhado
Pelo sopro de um poema sem amor
Poeta tão cansado
De ser o seu único admirador!
Escrevo cartas para alguém
Não sei a quem

Nem sei se terão fim
Só sei que essas cartas
Sempre voltam para mim!

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