segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pai...



Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. Caminhávamos na areia macia da praia de mãos dadas, e quando olhava para o teu rosto via o céu azul lá em cima...
No mar as ondas iam e voltavam, cada uma de um jeito diferente, e eu observava e falava... Ah como eu falava! Tu nada dizias, nem sei se escutava! Ia brincando nos meus passos leves, sorrindo com a brisa, cantando cantigas de menina, eu caminhava ao teu lado! Segura nos meus passos e sentindo a vida intensamente dentro de mim, naquela tarde mágica de sol... Será que me escutavas? No que pensavas? E nos teus passos tensos, pesados, cabeça baixa, olhar exausto, vi o teu medo da vida me cutucar... Mas eu respirava fundo e apertava forte a tua mão... Estava segura! Confiava em você!
Leve, solta e livre... Falando pelos cotovelos, olhando a paisagem e procurando te fazer feliz com a minha pequena felicidade, mas nada dizias... E seguia me arrastando na contradição dos nossos passos, às vezes um tropeço descuidado e eu sorria achando que estivesse brincando, nenhuma expressão no teu rosto eu via. Parei no meio do caminho, estava cansada e como não queria aborrecê-lo, apontei o horizonte! Tu olhaste para mim, com um jeito impaciente e quis continuar a andar, mas quando viu os meus olhos brilharem, pela primeira vez, olhou na mesma direção e eu radiante não podia perder um segundo desse momento:
(Pai! Você está vendo o que tem do outro lado? O que será? O que consegue ver?).
É Pai do outro lado do infinito! É tão lindo... Consigo imaginar, o que tem lá... Fadas brincando com as borboletas, crianças correndo entre as flores... Consegue ver!? Calado, áspero, nada via, o que veria com os olhos fechados!?
Mas o fato de estarmos olhando juntos na mesma direção trazia-me paz! Não percebi quando minha mão já estava sozinha e eu continuei falando, imaginando, e meu coração batia forte, meus olhos brilhavam de emoção e deu aquela vontade de ver o céu azul que tinha sobre a sua cabeça, pra ver se teus olhos deslumbravam-se assim como os meus. Mas quando me dei conta, tu não estavas mais ao meu lado! Lá longe, partia distante, quase não conseguia vê-lo... Seguia do mesmo jeito, passos pesados, cabisbaixo. Não desisti! Saí correndo em tua direção... Tentei gritar, mas hesitei quando uma lagrima caiu... Percebi que não o alcançaria, e meu caminho não poderia ser o mesmo!
Continuei, seguindo a linha aonde o mar derramava os segredos da vida. E quando sentia saudade, eu olhava para cima e via o reflexo da tua face no azul do céu e a lembrança viva de quando olhamos juntos na mesma direção!

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